11/2/06

Da necessária morosidade das coisas...ou um abaixo assinado contra a cultura 'Duh-Uh!'

...Porque até uma boa gelatina, para que fique boa de facto, leva o seu tempo a ganhar consistência. Quanto mais tudo o resto na vida. Rigorosamente tudo. Talvez seja por isso que esta cultura jelly-já, de livros de auto-ajuda-sejafelizemdezliçõesrápidasouésójuntaráguaaferver, a que assistimos me arrepia os cabelos e me deixa as garras de fora.
Viva o grão-de-bico a demolhar, as cicatrizes dos tralhos de bicicleta que demoram a cicatrizar, viva o 'Anna Karenina', as dores de crescimento, a passagem das estações, o ciclo menstrual, a antecipação de um golo, as vacas a pastar no prado, o vinho envelhecer nas pipas, o fumo lento do cachimbo, os fornos de lenha, os ensaios esforçados na garagem, os abraços demorados, o café escorregando cremoso na chávena, as filas de espera para os espectáculos que virão a ser aqueles que nunca se esquecem, viva o tempo das conquistas e o das perdas, viva aos bolos a crescer dentro da porta do fogão...viva a tudo o que demora o seu devido tempo. Viva as coisas da vida que por levarem o seu tempo nos fazem confrontar com a nossa capacidade de resistência e tolerância à frustração. Viva às coisas que nos tornam efectivamente robustos, e não meramente funcionais e imediatos e respondentes. Já não há respeito nem pelo ritmo biológico das coisas...Irra. Que isto está bonito, está. E como se não bastasse...ainda chove!!!!!!


5 comments:

Badalo said...

Vim aqui deixar um sorriso muito grande pelo comentário (nada ensonado) deixado na Quinta - daqueles que, por tão comoventes nos fazem pensar em fugir de Marte, onde de nos encontramos cativos, e tentar reimpulsionar a vida rural - e eis que ele (o sorriso) se rasga mais ainda pois, se à partida a ideia era deixar apenas um comentário, ele seria tolo ou oco se não versasse minimamente sobre o texto respectivo. E quanto a este, só duas duas palavras: na mosca! Assino por baixo, deixo profunda vénia e um retinido TLÓING!

Badalo said...

Errata: onde se lê «onde de nos», leia-se, s. f. f., «onde nos».

VdeAlmeida said...

Com efeito, como uma vez referiu o míto uintelectual Vasco PV, o mundo está perigoso.
E como dizia um ilustre desconhecido, a vida é como um interruptor: umas vezes acende-se, outras apaga-se.
Tenhamos pois esperanças em melhores dias e que a RTP não se lembre de repetir a entrevista com o Albert John Garden

W. said...

Viva!

Anonymous said...

Não referiste as vitórias do Benfica no campeonato.

Esse tempo de espera é que sim, transforma-nos em verdadeiros homenzinhos.

Já agora, olá outra vez! :P