6/25/06

Elogio do Amor, Miguel Esteves Cardoso in EXPRESSO

Deixo-vos um excerto...

Citado por Fernando Alvim no http://esperobemquenao.blogspot.com

"(...) Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra.O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo (...)"

6 comments:

Pyny said...

Tá muito engraçado sim senhor! Gostei particularmente da crónica desta semana "Secas cuspidas", vale a pena dar uma vista de olhos! ;)

Badalo said...

Bom, cá estou eu de novo com uma incursão politicamente incorrecta. É de acreditar que tento evitá-las, mais a mais que como já aqui expliquei é necessário um denodo extra para vir à maquineta postar arrotos de pescada. Bom. É que o assunto me é muito caro.

Pecebe-se a ideia do MEC, que é bom mecinho e tem um senso de humor muito interessante. É culto q. b. para proferir observações válidas. Mas neste texto faz-se uma confusão que, por muito habitual que seja, não deixou ainda de me constranger. Fala-se em amor e depois descreve-se a paixão. Não pode. São coisas tão distintas que sob alguns aspectos até se opõem.

Pronto.
Subscrevo a «raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem"» LOL! (blhéca!)

Joana said...

Pyny, irei espreitar. Grazie pela dica. Tudo bem contigo?

Badalo, concordo em parte. Acho que o 'mecinho' fala de amor-apaixonado. Mas acima de tudo fala de formas de amar apaixonadamente, e que assume contornos diferentes hoje do que em gerações enteriores. Quer queiramos quer não, o imediatismo de contacto interpessoal que vivemos agora sabotou um dos aspectos mais importantes para a paixão enlouquecedora: o da frustração. Já dizem os especialistas que é numa dose considerável de frustração que se organiza e cresce o desejo. Não o desejo sexual bem entendido, mas sim o desejo por outro. Acho que acima de tudo, é nisto que o MEC quer tocar. O que é pertinente, porque o desejo é um móbil essencial do ser humano em todas as esferas da sua vida, desde as necessidades mais básicas àquelas mais elaboradas. Em que pé é que ficamos se de repente tudo está à vista, tudo está acessível em tempo real? Cadê a luta?
enfim, é uma reflexão apenas.

Badalo said...

Eu sei, e talvez por tudo isso - ainda que não o tenha deixado claro -, apreciei o texto! Porque é bem visto e dito numa escrita colorida à MEC... Talvez me tenha perdido um pouco nesse aspecto pararelo, mas dele não abdico: há claramente uma confusão de conceitos (fala-se muitas vezes de amor quando se significa paixão, e são 'coisas' totalmente distintas)... Isso acontece aqui embora não se queira retirar (!) qualquer mérito à observação do mecinho, mas fazer justiça a algo que, como comecei por dizer, me é muito caro. ;-)

Joana said...

É um facto...são coisas distintas. ó Badalo, leste mesmo aquele testamentão de comentário que escrevi?... és o meu herói. Sobretudo em alturas em que nem eu própria tenho pachorra para me ler. Bem hajas, bom homem :)

Paulo said...

Estou plenamente de acordo com o badalo. O MEC, que até é um bom gajo, com umas crónicas divertidas e um humor muito "british", decidiu, fazer uma "sobreposição" entre amor e paixão. E depois amor e paixão sempre existiram, o MEC não os vê porque já passou para a outra fase da vida, ie de ingénuo para cínico. lolllll ;)))