12/19/05

Pais natais dos trezentos: a problemática realidade VERSUS fantasia (texto estupidamente sério!)

Há coisas que me entristecem. Primeiro foi saber que aquilo da fada dos dentinhos era treta. Soubesse o que sei hoje e tinha-me poupado mais àquela porta da despensa. Depois disseram-me que tinha escolher outra profissão, porque as fadas madrinhas não existiam e mai' não sei o quê!! Só decepções! E para rematar a tristeza no meu coração de criança percebi que não há pai natal porra nenhuma. A desilusão foi atrós. Mas de repente houve coisas que fizeram sentido: é claro que um velhote que prima pelo rigor da indumentária não poderia jamais oferecer-me meias brancas com raquetes. Ali havia dedo da minha avó. A outra decepção foi saber que o look Santa Claus foi "comercializado" por uma bebida cuja principal utilidade é desentupir os canos lá de casa. Esta prostituição natalícia foi mais do que pude aguentar. Então quer dizer que não há renas?! Que não há duendes?! Que a mãe natal mais real que existe é anorécticamente esbelta e usa ligas?! Será que mete os dedos à boca depois de engolir um sonho ou uma azevia??!!

Quando era pequenina estava perfeitamente convencida que receber prendas dependia de uma reuniãzinha entre o menino jesus e o velhote simpático de barbas. Sempre achei no entanto que, dado o volume de presentes e a acuidade com que eram escolhidos só podiam indicar uma coisa: estavam mal informados a meu respeito.
Mas a questão de fundo aqui é que se a desilusão e o confronto com a realidade pode ser uma fase chata para as crianças quando surge, o que é certo é que esse mundo imaginário deve ser mantido e respeitado até lá. São anos mágicos que promovem a fantasia e a elaboração saudável das emoções, contribuindo também para gerar adultos saudáveis, com a capacidade de criar, imaginar, fantasiar, projectar-se em concretizações futuras.
Nos dias de hoje, isto aparece altamente sabotado. Existe uma cultura dominante que injecta a realidade a seco nas crianças não respeitando que são seres em desenvolvimento e que a fantasia é na realidade algo muito sério porque as ajuda a configurar abstractamente um mundo que ainda não estão preparadas para comprender e assimilar tal como ele é. É preciso tempo para crescer. É preciso fantasiar para crescer. E ainda que este não seja o melhor exemplo para materializar esta questão (haveria milhares de outros mais pertinentes) tornou-se há muito ridiculo este culto comercial à volta da figura do pai natal.


Bolas, eu adorava o velhote e agora não posso nem vê-lo. Por Lisboa inteira há uma média de 2 pais natais por prédio a fazer rappell. Há pais natais a distribuírem panfletos de cursos de informática. Isto já para não falar que no metro esbarramos com um e logo de seguida com mais dois no centro comercial. As crianças não são burras. Tudo bem que desde a Dolly (e sabe Deus como estas crianças de agora são precocemente informadas) elas ainda poderiam pensar em clonagem mas não as ofendam, pela vossa saúde.
No outro dia vi uma moça..uma profissional do sexo...vestida de mãe natal e com uma mini saia vermelha do tamanho de um cinto! Mas o que é isto? ... Estão a matar os ícones infantis sem dó nem piedade!...

Resumindo, onde é que há espaço para mostrar às crianças que a princípio do natal está em descobrir que parte do Sentido da Vida é perceber que é muito mais gratificante dar qualquer coisa de si do que receber seja o que for? E não, não estou a falar dessas mães-natal dadas ao disfrute. Algures no meio disto este princípio diluiu-se. E de uma forma muito estranha acabam por ser os filmes infantis de natal que, com todos os defeitos que possam ter, ainda vão recuperando este sentimento e devolvendo-o a quem de direito. Talvez o maior falha de todas esteja presente naquela célebre frase que tanto se ouve por aí: "O natal é para as crianças, para nós já não tem piada". E acho que o problema reside todo neste princípio fatela. Com o tempo acabarão por envenenar a época e fazer as crianças interiorizar que... sim, o Natal é uma época de prendas mas que os adultos querem hipocritamente fazer crer 'até eu ter 1 metro de altura' que é um gajo bêbado vestido de vermelho que desce pela chaminé para entregar presentes que 'eu nem sequer me esforcei por merecer'.
Eu no fundo adoro o Natal. E o meu problema é precisamente todo esse. Mas o natal não é nada disto que se vê por aí...


9 comments:

Diego Armés said...

Texto "estupidamente" bom.

SpiritMan aka BacardiMan said...

E já agora, que tenhas um Bom Natal, ao teu gosto, à medida da tua loucura, loira lua! Lolol

E no ano novo que o sol brilhe, brilhe, brilhe pra todos... loiros, morenos, chinocas, castanhocas e...

Cumprimentos mixed by Jameson 12 anos!

SpiritMan aka BacardiMan said...

Voltei pra ler então o post!!
Muito bom, muito psicopedagógico também, pra não dizer... psico-pedagógico-sociológico!!!
E já agora acrescento que... há sim toda uma descaracterização, mas o que é certo é que tudo anda com o pai natal na carola pra não falar noutros sítios mais estranhos)! E eu, como acredito no pai natal tenho fé e sinto que as crianças irão conseguir separar as coisas, não sei, tenho este optimismo, até porque a angústia há-de ser tanta que procurarão valorizar o prazer genuíno, procurarão, separar e crescer, pra rimar! Lolol

Bjs mixed by Jameson 12 anos!

Anonymous said...

Então... mas...peraí...queres com isto dizer que o Pai Natal NÃO EXISTE???!!!!fogo, com esta agora é que me tramaram...
bjo

Indibiduo said...

Cachopa, eu ando com falta de tempo, e tu colocas um texto deste tamanho?????

Aiiiii, bem.

Primeiro, ainda acredito no Pai Natal, e depois quero desejar-te um óptimo Natal para ti e para a tua familia.

beijinho esquimó

manhã said...

É pá enjoa mesmo , ver pais natal em rapel, e nenhum ainda se lembrou de cair!

[0-0] said...

então mas.. Não há fada dos dentes?!?! e o Pai Natal não existe.. obrigado por me estragares todas as mihas fantasias.. ai.. como te adoro!!! em relção à coca cola, não os culpes de tudo, eles apenas pintaram o velho de Vermelho e meteram-lhe uns quilitos em cima! Vai tarde, mas sempre vai primeiro que o teu ( que boca tão desnecessária numa época como esta..) Feliz Natal.

Indibiduo said...

Humm, o bolo rei fe-te malll???

Alberto Oliveira said...

... "é preciso fantasiar para crescer". Frase que nem imaginas como está correcta no que a mim respeita...
Como é que pensas que atingi os dois metros de altura na qualidade de Papel de Fantasia?!

Beijos.