4/23/09

Um fadinho na Av. General Roçadas

Em todas as famílias existem objectos, situações... enfim, legados particulares, deixados pelas gerações antigas para aquelas vindouras. Coisas que unem o tecido infinito do tempo, e a todos que por ele passaram, em torno de um momento.

Na minha família, eles são a mousse de chocolate da minha tia, os sonhos conventuais da minha avó, um casaco dos anos 70 do meu avô (que me está enorme mas do qual não me separo), e o "fado do meu pai".

Na verdade não é do meu pai, mas como era ele quem o cantava sempre, depois de abatidos alguns whiskys à mesa, eu sempre achei que era dele. Assim, há-de ser sempre dele. Eu, pequenina, ficava embargada quando o via erguer-se tão seguro, ainda com migalhitas de broa penduradas no guardanapo-gravata. Ninguém o cantaria com tanto sentimento e coragem, apesar do silêncio suspenso e incómodo à mesa...


A história por trás do 'Fadinho da Sogra'


O meu pai era um jovem gaiato, com algum talento para sacar dinheiro no poker e ao bilhar aos senhores mais velhos habitués que aceitavam ensinar-lhe umas coisas. Mas o meu pai também se dava com gente honesta, não eram só malandros.

Entre eles, reza a história, havia um jovem acólito que ajudava à missa no Centro Paroquial da General Roçadas (que é como quem vai para Sapadores, ok?) e que se chamava Tavares. O Tavares num dia de inspiração (divina, diria!) escreveu uma Ode. Nesse dia marcou a vida dele, mas a da nossa família também.


Agora é que é.

O Fadinho da Sogra

Minha sogra cá prá gente
é doida por aguardente
e até bebe ao despique

Se lhe chegam um fósforo à boca (bis)
[Se lhe chegam um fósforo à boca]
arrebenta c'o alambique

Foi numa adega em Colares
[Foi numa adega em Colares]
que aquela Santa já grossa
disse pra mim "ó Tavares (bis)
[disse pra mim "ó Tavares]
se esta pipa fosse nossa

Minha sogra já morreu
[Minha sogra já morreu]
c'o um balão de estricnina
Na autópsia os pecados (bis)
tiveram de ser lavados
com 3 litros de Benzina

Três dias depois da morte
[Três dias depois da morte]
O coveiro fez alarido
Encontrou a urna torta (bis)
O jazigo sem a porta

E o estapor tinha fugido!

4 comments:

Tony Carreira said...

Silêncio que se vai cantar o fado!

Anonymous said...

Conheço bem com algumas pequenas variantes introduzidas pelo improviso de quem vai cantando:
O Fadinho da Sogra

Minha sogra aqui prá gente
é doida por aguardente
e até bebe ao despique

Se lhe chegam um fósforo à boca
Se lhe chegam um fósforo à boca
há explosão alambique

Foi numa adega em Colares
Foi numa adega em Colares
que aquela Santa já grossa
disse pra mim "ó Tavares
disse pra mim "ó Tavares
s’ esta pipa fosse nossa

Minha sogra já morreu
Minha sogra já morreu
c'o um balão de estricnina
Na autópsia os pecados
tiveram de ser lavados
com 3 litros de Benzina

Três dias depois de morta
Três dias depois de morta
O coveiro fez alarido
Encontrou a urna torta
O jazigo já sem porta
E o estapor tinha fugido!

Maria do Mar said...

Olha que engraçado como a minha irmã encontrou as letras desta cantiga! Nós anos 70, as minhas irmãs e eu andamos num colégio de freiras irlandesas, Colégio do Bom Sucesso, em Belém, um colégio só de raparigas, e nós todas conhecíamos e cantávamos está canção inúmeras vezes! Havia algumas variantes, mas as miúdas divertiam-se imenso com a letra da canção 😆

Minha sogra cá prá gente
é doida por aguardente
e até bebe ao despique

Se lhe chegam um fósforo à boca (bis)
[Se lhe chegam um fósforo à boca]
arrebenta c'o alambique

Foi numa adega em Colares
[Foi numa adega em Colares]
que aquela velha já grossa
disse assim próTavares (bis)
[disse assim pró Tavares]
se esta pipa fosse nossa

Minha sogra já morreu
[Minha sogra já morreu]
Com uma bola de naftalina
Na autópsia os bocados (bis)
tiveram de ser lavados
com 3 litros de Benzina

Três dias depois da morta
[Três dias depois da morta
O compadre fez alarido
Encontrou a urna torta (bis)
O jazigo sem a porta
E o estupor tinha fugido!

Essa era a nossa versão 🤣

Maria do Mar said...
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