9/26/07

Socorro. Quero a minha terapeuta.

A noite já vai longa. A lua bem alta, e nas traseiras alguém ressona como uma betoneira há largas horas. Não, não é o sr. Francisco, o talhante, é mesmo a D. Natacha do Cabeleireiro. Diz que é do amoníaco das tintas que lhe agrava a sinosite. Mas nas traseiras deste pequeno bairro no centro urbano, para lá do submundo das histórias dos gatos vadios, como o nosso Pimpão, o gato que queria ser cão, ou a bela Tareca que queria mesmo era ter nascido gato para poder ser trávéca... bom, para lá dos seus vultos errantes a patinhar silenciosos os telhados, e para lá das cuecas a desequilibrar o velho estendal, já de si assimétrico, abrem-se pequenas janelas para a vida privada. Aqui dentro a noite é bem mais tranquila, escura, silenciosa, e um vulto sossegando o ar debaixo dos cobertores denuncia um sono já profundo. Ou pelo menos assim parece:

"- Cof-COF-Cof.....Hmpf....Cof-cof ... COFCOFCOFcofCOFcof......... iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiihhhhhhhhhhhhhh" (onomatopeia para asfixia temporária. Apesar do fumo a personagem opta por respirar pela boca. burra.) O ambiente é enevoado, e ela prossegue abanando em vão o cenário do sonho:

"- Cof... O gajo da máquina de fumos deve-se ter esquecido daquilo ligado. Bolas"

Na realidade o problema é que há um amigo da nossa protagonista que fuma cannabis a mais, mas como estamos no campo do sonho o Superego exerceu aqui a sua função de censura sobre as imagens que passam neste blog. Ora, depois de alguma dificuldade inicial, foi possível vislumbrar o que ali estava a fazer de facto. Dissipou-se mais. Finalmente, chegava-se à frente, ao balcão da farmácia. Aparentemente teria ido comprar produtos de dermocosmética. "O preço que custa a beleza! bem podem oferecer amostras-brinde" - pensei eu sofrida. Logo a directora clínica se apressa com o seu sorriso de Stepford wife. Foge por breves segundos com um entusiasmo que pessoalmente, pronto, acho meio parvo, para surgir logo de imediato, como que a demorar um suspense qualquer. "Ouça. Eu estou farta de reclamar para o Centro do Ego que não curto estes realizadores pseudo-noirs a dirigir a minha produção onírica. Fui muito clara da última vez em relação à minha preferência pelo registo do Tim Burton. Mas que maçada pá. Tsst. tento resolver isto educadamente e..." E... cortando o meu pensamento em voz off estereofónica a senhora de bata e sorriso e olhar de louça coloca em cima do balcão um bebé lindo embrulhado em lençóis. Pumba:

"- E ... na compra destes produtos da Galénic.... Párabéns!!! Agora é mãe!!!"

Do alto da sua camisa, e do baixo das suas sabrinas pretas, a protagonista diz apenas:

"... merda. e agora? "


Fim de Filme.


3 comments:

MEIO MALUCO said...

Olá, olá olá e olá,

Bem vinda de volta :)

Quanto à tua história, deixa-me dizer-te que acabaste de vez com o estigma da cegonha, agora quando os putos (aqueles putos que ainda não têm idade para ouvir falar de sexo) perguntarem de onde vêm os bebés, digam-lhes que os país os vão buscar à farmácia!

PS: aproveita a embalagem e continua a postar, que para mim é sempre um prazer e uma enorme alegria ler as tuas escritas ;)

Bjs

Salustio said...

Já há uns tempos que não lia nada tão bom aqui por Vila Nova da Internet. Parabéns.

Elora said...

Agora acordas?