Em todas as famílias existem objectos, situações... enfim, legados particulares, deixados pelas gerações antigas para aquelas vindouras. Coisas que unem o tecido infinito do tempo, e a todos que por ele passaram, em torno de um momento. Na minha família, eles são a mousse de chocolate da minha tia, os sonhos conventuais da minha avó, um casaco dos anos 70 do meu avô (que me está enorme mas do qual não me separo), e o "fado do meu pai". Na verdade não é do meu pai, mas como era ele quem o cantava sempre, depois de abatidos alguns whiskys à mesa, eu sempre achei que era dele. Assim, há-de ser sempre dele. Eu, pequenina, ficava embargada quando o via erguer-se tão seguro, ainda com migalhitas de broa penduradas no guardanapo-gravata. Ninguém o cantaria com tanto sentimento e coragem, apesar do silêncio suspenso e incómodo à mesa... A história por trás do 'Fadinho da Sogra' O meu pai era um jovem gaiato, com algum talento para sacar dinheiro no poker e ao bilhar aos senhores mais velhos habitués que aceitavam ensinar-lhe umas coisas. Mas o meu pai também se dava com gente honesta, não eram só malandros. Entre eles, reza a história, havia um jovem acólito que ajudava à missa no Centro Paroquial da General Roçadas (que é como quem vai para Sapadores, ok?) e que se chamava Tavares. O Tavares num dia de inspiração (divina, diria!) escreveu uma Ode. Nesse dia marcou a vida dele, mas a da nossa família também. Agora é que é. O Fadinho da Sogra Minha sogra cá prá gente é doida por aguardente e até bebe ao despique Se lhe chegam um fósforo à boca (bis) [Se lhe chegam um fósforo à boca] arrebenta c'o alambique Foi numa adega em Colares [Foi numa adega em Colares] que aquela Santa já grossa disse pra mim "ó Tavares (bis) [disse pra mim "ó Tavares] se esta pipa fosse nossa Minha sogra já morreu [Minha sogra já morreu] c'o um balão de estricnina Na autópsia os pecados (bis) tiveram de ser lavados com 3 litros de Benzina Três dias depois da morte [Três dias depois da morte] O coveiro fez alarido Encontrou a urna torta (bis) O jazigo sem a porta E o estapor tinha fugido! |
4/23/09
Um fadinho na Av. General Roçadas
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