Numa linha telefónica de apoio a situações de emergência:
- ... Compreendo minha senhora. E, está a ligar-nos de onde?
- Da casa de banho...
- hum... Talvez não me tenha feito entender...
- Do meu telemóvel. Estou a ligar do meu telemóvel.
- Referia-me à cidade, distrito. Liga-nos de que zona do país?
- Não não. É de Portugal mesmo.
- Minha senhora, procure ouvir-me. Quando tem de ir ao Hospital onde vai?
- Ter com o médico, claro.
- (... Cof cof...desisto.)... D. Fernanda não é?! Se me der um momento vamos transferir já-já a sua chamada.
Contacto seguinte:
- Boa tarde, em que posso ser útil?
- Olhe! Não pode pôr aquela musiquinha outra vez?
- Música... ?!
- Sim sim. Aquela música sem letra que estava a dar antes da menina começar a falar...Não pode pôr outra vez? É que a minha filha gostou muito.
- (...)
- Tou-tou?!
- ... É Vivaldi minha senhora. Julgo que não terá dificuldade em encontrar numa Fnac.
- Tá. Obrigada!!!... Tit-Tit-Tit-Tit-Tit-Tit.
12/18/06
12/12/06
Deus Nosso Senhor deve andar por aí, mas andamos desencontrados. Talvez seja melhor Ele me deixar um post-it a agendar encontro.
Ando numa crise espiritual, vai pra 15 anos. E por toda a parte se articulam sinais como me culpabilizando do meu "afastamento" da fé; por ter optado por namorariscar em vez de seguir avante com o meu projecto inicial de ser uma noiva de cristo e por ter feito uma guerra sem precedentes para trocar o colégio de freiras pelo liceu da minha zona.
Por todo o lado no meu quarto se espalham artigos de merchandising da religião católica, estrategicamente posicionados pela minha avó, para que esbarre com eles com toda a frontalidade. Geralmente chego mesmo a tropeçar e caio. Sou um bocado desastrada. Antes fossem t-shirts mas a oferta mais recente foi um missal, o que permanece um mistério sinuoso à minha pessoa dado que não vou à missa, e cantar só mesmo no banho.
Bom, o missal veio juntar-se a toda uma panóplia de objectos, instrumentos de doutrinação da minha querida avó, e cuja entrada no meu quarto goza da conspiração da minha progenitora, que se denuncia sempre que todos os anos profere aquela frase: "Então filhota?..Queres ir comigo e com a avó à missa do galo?"... "Comigo e com a avó", atentem. Pacto denunciado. É geralmente nessa altura que, nos últimos três anos, já estou de casaco e mala ao ombro fechando a porta atrás de mim com o consentimento silencioso (ou nem tanto) dos homens da família que já ressonam em frente à película que corre distraída no canal 1, alheia ao facto de ter perdido a audiência logo ao primeiro bloco publicitário.
O Natal em família não é algo que muito valorizo: o ritual da consoada, as piadas à mesa, e o calor que isso tem. Contudo, os primeiros roncos e as mantas de xadrez enroladas em pernas de gente adormecida e gatos ronronantes, marcam o sinal sereno da hora da retirada. Necessariamente, esse foi um momento já devidamente apreciado nessa tarde, a seguir ao almoço violento composto por um qualquer perú recheado, bem regado com um vinho da região demarcada do Douro. Sigo, portanto, e com uma sensação quentinha.
Mas falava de pactos antes de falar do Natal. Falava de objectos como o tal missal, que carinhosamente guardo numa caixinha onde o tempo foi acumulando por camadas coisas como a Biografia do Santo Papa, a História da Santa Rita de Cássia, A bíblia (edição revista e melhorada), água benta e crucifixos de toda a ordem e feitio. Faltaria um molhinho de alhos, e teria de perguntar à minha generosa avó o que julga ela que eu faço até altas horas da noite na rua, para descansar as preocupações da pobrezinha.
Mas os exemplos de tentativa de doutrinação não se esgotam em casa... Nãaaaaao! Certo é que assim que atrevo o nariz fora da porta confronto-me com um salão de testemunhas de jeová, com uma casa de culto da IURDE, duas Igrejas baptistas evangélicas, uma loja de artigos de mães e pais de santos, yemanjás e cú-rrú-cú-cús afins, e consoante os dias da semana cruzo-me com aqueles mocinhos muito engomados que se chamam todos Elder sem "H". O meu momento de descanso é nos transportes...quando não tenho azar, porque aparentemente sou um íman para taxistas jeovás. Chegada ao destino, e tal como voces, geralmente sou atropelada violentamente por revistinhas, que maliciosamente se movimentam aos pares para fazer duras placagens aos jovens estudantes que por ali passam já de si carregados com malas, livros e portátil. No outro dia, já de regresso a casa, estranhava eu o facto de há muito não ser abordada na rua por estas pessoas, e sujeita a conversas que acabam sempre mal, quando ao sentar o meu real rabiosque na paragem...
- A menina permite-me que lhe fale de amor..?
- ai.
- ...porque o reino do Senhor...
- Ah!...
- Não quer ler? São as palavras que ele nos deixou.
- Minha senhora, não me leve a mal mas eu tenho formação cristã.
- CRISTÃ? Mas eles nem sabem dizer o verdadeiro nome do Deus...
- Pois, não sei. Eu cá normalmente trato-o por tu. Sei que ele não me leva a mal. Sabe, nós ate que nos dávamos bastante quando eu era miúda...
- Essa gente nem sabe dizer o que nos espera no reino dos céus!!!
- ...e alguém sabe?
- O nosso Deus sabe!... ele diz-nos que os pecadores serão castigados pelo fogo -agitando um dedo perdido algures entre a argumentação e as ameaças aos ouvintes desinteressados- Os pecadores serão castigados e os bons de espírito serão premiados!!!
- Irra, que estas paragens novas...chove mais cá dentro que lá fora- Assinala-me divertido um senhor de alguma idade, afastando sem maldade aquele assunto.
- É verdade. Só são bonitas para pôr publicidade, não é? - Respondi, devolvendo a boa disposição.
- Já lá vem. Adeus menina. Um bom natal.
- Obrigada, um bom natal também para si.
- Fique com Deus.
- Mmmm (sorriso)
Por todo o lado no meu quarto se espalham artigos de merchandising da religião católica, estrategicamente posicionados pela minha avó, para que esbarre com eles com toda a frontalidade. Geralmente chego mesmo a tropeçar e caio. Sou um bocado desastrada. Antes fossem t-shirts mas a oferta mais recente foi um missal, o que permanece um mistério sinuoso à minha pessoa dado que não vou à missa, e cantar só mesmo no banho.
Bom, o missal veio juntar-se a toda uma panóplia de objectos, instrumentos de doutrinação da minha querida avó, e cuja entrada no meu quarto goza da conspiração da minha progenitora, que se denuncia sempre que todos os anos profere aquela frase: "Então filhota?..Queres ir comigo e com a avó à missa do galo?"... "Comigo e com a avó", atentem. Pacto denunciado. É geralmente nessa altura que, nos últimos três anos, já estou de casaco e mala ao ombro fechando a porta atrás de mim com o consentimento silencioso (ou nem tanto) dos homens da família que já ressonam em frente à película que corre distraída no canal 1, alheia ao facto de ter perdido a audiência logo ao primeiro bloco publicitário.
O Natal em família não é algo que muito valorizo: o ritual da consoada, as piadas à mesa, e o calor que isso tem. Contudo, os primeiros roncos e as mantas de xadrez enroladas em pernas de gente adormecida e gatos ronronantes, marcam o sinal sereno da hora da retirada. Necessariamente, esse foi um momento já devidamente apreciado nessa tarde, a seguir ao almoço violento composto por um qualquer perú recheado, bem regado com um vinho da região demarcada do Douro. Sigo, portanto, e com uma sensação quentinha.
Mas falava de pactos antes de falar do Natal. Falava de objectos como o tal missal, que carinhosamente guardo numa caixinha onde o tempo foi acumulando por camadas coisas como a Biografia do Santo Papa, a História da Santa Rita de Cássia, A bíblia (edição revista e melhorada), água benta e crucifixos de toda a ordem e feitio. Faltaria um molhinho de alhos, e teria de perguntar à minha generosa avó o que julga ela que eu faço até altas horas da noite na rua, para descansar as preocupações da pobrezinha.
Mas os exemplos de tentativa de doutrinação não se esgotam em casa... Nãaaaaao! Certo é que assim que atrevo o nariz fora da porta confronto-me com um salão de testemunhas de jeová, com uma casa de culto da IURDE, duas Igrejas baptistas evangélicas, uma loja de artigos de mães e pais de santos, yemanjás e cú-rrú-cú-cús afins, e consoante os dias da semana cruzo-me com aqueles mocinhos muito engomados que se chamam todos Elder sem "H". O meu momento de descanso é nos transportes...quando não tenho azar, porque aparentemente sou um íman para taxistas jeovás. Chegada ao destino, e tal como voces, geralmente sou atropelada violentamente por revistinhas, que maliciosamente se movimentam aos pares para fazer duras placagens aos jovens estudantes que por ali passam já de si carregados com malas, livros e portátil. No outro dia, já de regresso a casa, estranhava eu o facto de há muito não ser abordada na rua por estas pessoas, e sujeita a conversas que acabam sempre mal, quando ao sentar o meu real rabiosque na paragem...
- A menina permite-me que lhe fale de amor..?
- ai.
- ...porque o reino do Senhor...
- Ah!...
- Não quer ler? São as palavras que ele nos deixou.
- Minha senhora, não me leve a mal mas eu tenho formação cristã.
- CRISTÃ? Mas eles nem sabem dizer o verdadeiro nome do Deus...
- Pois, não sei. Eu cá normalmente trato-o por tu. Sei que ele não me leva a mal. Sabe, nós ate que nos dávamos bastante quando eu era miúda...
- Essa gente nem sabe dizer o que nos espera no reino dos céus!!!
- ...e alguém sabe?
- O nosso Deus sabe!... ele diz-nos que os pecadores serão castigados pelo fogo -agitando um dedo perdido algures entre a argumentação e as ameaças aos ouvintes desinteressados- Os pecadores serão castigados e os bons de espírito serão premiados!!!
- Irra, que estas paragens novas...chove mais cá dentro que lá fora- Assinala-me divertido um senhor de alguma idade, afastando sem maldade aquele assunto.
- É verdade. Só são bonitas para pôr publicidade, não é? - Respondi, devolvendo a boa disposição.
- Já lá vem. Adeus menina. Um bom natal.
- Obrigada, um bom natal também para si.
- Fique com Deus.
- Mmmm (sorriso)
12/4/06
Já todos têm folha... podem começar o exaaaaame!
Hum... Deixa cá ver o que é estes gajos se lembraram desta vez..."Leia as questões com atenção."..Blá-blá..."descreva todos os raciocínios... apresente todos os cálculos necessários" ... yada-yada... "exame com duas páginas... boa sorte!"...obrigadinha, uns queridos...Ora: "Desenvolveu-se um estudo com o propósito de verificar a possível relação entre a habilidade cognitiva e a área de conhecimento"...hum..."foram seleccionados aleatoriamente alunos dos cursos de Psicologia e matemática"... mau!!..."foi calculado o rendimento médio geral avaliado numa escala de 0-10" ... deixa cá ver os gráficos...hum...olha-olha... estão bem mais bonitinhos que o exame do ano passado, sim senhor. Deixa cá ajeitar os óculos. Isto serão outputs do SPSS?... Olha gostei! ...portanto, "foi ainda perguntado a cada aluno quando iniciou e após dois anos de frequentar o curso, quais as expectativas de encontrar um bom emprego"...Ah! Tenham dó...Não se faaaz. Deixa cá ver a última pergunta...Mmmmm....mais para baixo..."7. Os investigadores consideram que, quando os alunos estão a frequentar o curso as suas expectativas de encontrar um bom emprego são inferiores às expectativas quando iniciam o curso. Verifique se esta suposição é verdadeira, assumindo um alfa de 0.005??!!!!.." Tipo... DUH-UH!!... A-LÔOO!?
- Psst... Já viste bem o ridículo destas perguntas?...
- Shiuu! Vira-te prá frente pra me tapares as cábulas.
É por estas e por outras que sempre me senti uma inadaptada no sistema de ensino.
- Psst... Já viste bem o ridículo destas perguntas?...
- Shiuu! Vira-te prá frente pra me tapares as cábulas.
É por estas e por outras que sempre me senti uma inadaptada no sistema de ensino.
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